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Arquitetos: Kiyoaki Takeda Architects
- Área: 206 m²
- Ano: 2021
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Fotografias:Masaki Hamada (kkpo)
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Fabricantes: Atom Company, Sanko, TAJIMA ROOFING, Toyo Materia
Artefatos Humanos - Encontrei um artigo publicado em um jornal científico intitulado “A massa global produzida pelo homem excede toda a biomassa viva” (Nature: publicado online em 9 de dezembro de 2020). De acordo com o artigo, os artefatos feitos pelo homem, conhecidos como massa antropogênica, começaram a ultrapassar toda a biomassa viva global. Além disso, é relatado que a causa dominante dessa tendência são os materiais de construção. Essa condição implica que chegamos no limite para continuar gerando essa “arquitetura exclusivamente para humanos” produzida até então. Nesse contexto, qual seria o papel da arquitetura, uma morada para o homem?
Essencialmente, o papel principal da arquitetura é se proteger da força brutal da natureza. Quanto mais experimentamos desastres naturais, mais sólida se torna a parede entre a natureza e o espaço construído. A separação entre interior e exterior para humanos e outras formas de vida tem sido mais distinta. Por outro lado, entende-se bem que o ambiente que a natureza proporciona pode ser rico e belo. É por isso que jardins são plantados e fachadas e telhados têm se tornado verdes. No entanto, as plantas cultivadas como paisagens decorativas foram planejadas apenas do ponto de vista humano. Elas existem como uma extensão do espaço para os humanos, não como um espaço para a vida selvagem. A realidade do "crescimento de artefatos humanos" é, na verdade, a "expansão inconsciente do espaço humano".
Todos os humanos, plantas, animais e insetos têm compartilhando o projeto de “viver” na Terra. A Terra é um conjunto amorfo de vários organismos vivos, incluindo humanos. A arquitetura poderia ser um recipiente para manter esses organismos como uma unidade?
A “Casa Tsuruoka” é uma arquitetura que tenta conter não apenas pessoas, mas também outras formas de vida.
Infraestrutura Ambiental - Infraestrutura para o Meio Ambiente - Normalmente, o terreno costuma ser dividido em “jardins” e “casas” em um plano bidimensional. No entanto, com este método de projeto, a relação entre natureza e arquitetura tende a ser próxima uma da outra. Então, que tal sobrepor “jardins” e “casas” um em cima do outro em um plano transversal. Todos os andares seriam no nível do solo, proporcionando um espaço subterrâneo abaixo deles. A espessura do solo foi trabalhada o mais profunda possível para que o jardim fosse uma pequena floresta com uma mistura de plantas de forração, arbustos e pequenas árvores. Essa abordagem vai contra a ecologia moderna dos telhados, que busca solos mais finos. Ao abrir o jardim para outras formas de vida disponíveis, proporcionando-lhes um lugar para habitar e co-criar a comunidade, o “jardim” torna-se um “ambiente”.
Uma condição essencial para projetar um ambiente que suporta outras formas de vida era a drenagem clara da água da chuva no solo. Após repetidos estudos da seção transversal onde a água da chuva cai naturalmente com a gravidade, chegou-se à conclusão de utilizar lajes abobadadas contínuas. A água da chuva flui das montanhas para as lajes é transportada verticalmente através do núcleo. O fluxo de água gerou a forma do volume. Essa abordagem é semelhante à engenharia de canais de irrigação e represas que requer concentração determinada em solo retido e derramamento de chuva com eficiência dentro do ambiente natural hostil.
Na verdade, não era fácil manter o ambiente natural. Ao contrário dos artefatos estáticos, o ambiente natural não pode ser controlado. Além disso, há chuvas torrenciais, plantas que crescem e aumentam a cada ano que precisam ser consideradas. Quando organismos e climas imprevisíveis e instáveis se tornaram requisitos para o projeto arquitetônico, quanto mais o projeto avançava, mais assustador era abraçar o meio ambiente. Mesmo assim, enfrentamos riscos imprevisíveis da natureza e conseguimos construir uma "infraestrutura para o meio ambiente", instalando tubos de transbordamento para lidar com a chuva torrencial, projetando a fundação do solo com estrutura em camadas, colocando composto de alta densidade com retenção de água na parte superior onde as raízes das plantas podem alcançar e posicionando composto de baixa densidade com drenagem clara no nível mais baixo, reduzindo o peso ao limitar a localização do solo no telhado e no perímetro da edificação permitindo a transpiração para suavizar o calor do sol.
Por que coloquei minha energia na criação da “arquitetura para o meio ambiente”? Porque havia a expectativa de que essa arquitetura pudesse trazer uma nova racionalidade aos “espaços para as pessoas”.
Ao envolver o espaço com solo bastante espesso, cria-se um lugar semelhante a uma caverna onde se tem um clima mais fresco. A terra pode afetar positivamente a vida diária das pessoas. As lajes abobadadas contínuas criadas para reduzir a chuva oferecem pés-direitos variáveis e Isso pode parecer negativo à primeira vista, mas seria uma estrutura muito mais atraente em comparação com a laje plana geral.
Essa laje possibilita um teto alto aberto de 3,5 metros no topo, com a altura descendo para 2 metros, acessível à mão. Se a estrutura for alcançável, junções podem ser fixadas em extremidades de plástico, e isso nos permitirá pendurar redes, luzes e plantas. Estruturas alcançáveis podem ser capazes de gerar criatividade na vida diária. Seria a estrutura para sustentar não só o meio ambiente, mas também a vida de cada um.
Convivendo com a Natureza - Durante a construção, ainda permanecia uma dúvida séria em minha mente. O ambiente suportado pela estrutura do volume (artefato) é a “natureza gerida” pelas mãos humanas. No entanto, o meio ambiente não deveria significar "natureza intocada"?
Quando estava pensando, lembrei-me de minha experiência como estudante, visitando uma casa de alvenaria em Urbino, Itália, para uma investigação das ruínas. Havia uma ruína no topo da colina aberta. Entrando em um espaço que teria sido uma sala de estar com um telhado em péssimo estado, surpreendentemente, encontrei uma pequena floresta dentro do ambiente. Se não houvesse arquitetura, este lugar seria apenas o topo de uma colina gramada. Mas vestígios de artefatos construídos por humanos claramente diversificaram a variedade de organismos neste lugar. As paredes externas de pedra permitem que a hera nativa cresça verticalmente, o telhado protege os arbustos da luz solar intensa e os ladrilhos retêm água da chuva suficiente para a sobrevivência das pequenas árvores. Os artefatos geraram qualidades variáveis no ambiente, proporcionando um lugar para vários organismos.
Relembrando essa experiência, reconheço meu objetivo com o projeto, mostrar que a “arquitetura para o homem” também pode ser para o meio ambiente, e vice-versa. Humanos e natureza, solo e plantas, plantas e animais. Ao respeitar a oferta e a demanda entre todos os seres em todas as direções, a arquitetura pode ser um elo para harmonizar o papel de todos na existência. Se pudéssemos estabelecer uma estrutura que fomentasse relações mútuas e complementares entre si, talvez fosse possível buscar um direcionamento para a arquitetura do futuro.
Na “Casa de Tsuruoka”, com o tempo, as plantas crescerão e os pássaros e insetos introduzirão espécies não planejadas. Eventualmente, uma pequena floresta pode aparecer. Então, depois de décadas, as formas de vida existentes crescerão e esconderão o volume e, em última análise, sua biomassa deve ultrapassar a massa da arquitetura feita pelo homem. No entanto, esta casa não traria nenhum efeito potencial para melhorar o meio ambiente global.
Porém, em vez disso, cria-se uma vida na qual humanos e outras formas vivas pudessem se conectar diretamente em uma relação íntima, mas mantendo uma distância confortável para se respeitar, dentro de um ambiente sustentado por um equilíbrio apropriado entre organismos e artefatos, isso era o que eu queria.